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2º Maximoda traz reflexões sobre a indústria da moda

Jornal O Estado - 21 de setembro de 2009. Fortaleza, Ceará, Brasil.

No último dia 18, a capital cearense presenciou um dos mais analíticos eventos de moda do Nordeste. A segunda edição do Seminário de Marketing de Moda do Nordeste (Maximoda) refletiu com propriedade e fundamentação os alicerces que o marketing e a gestão empresarial proporcionam ao setor.

Tratar a moda como um negócio, onde o marketing é uma ferramenta importante era o principal objetivo do evento. No entanto, o know-how, a transparência e a pluralidade dos convidados foram elementos que ajudaram a traçar um panorama mais completo do mercado.

A idealizadora e coordenadora do evento, Márcia Travessoni, abriu o Maximoda já sinalizando o que estaria por vir. Com um discurso focado e preciso, Márcia acertou o tom ao afirmar que qualidade e inovação, atualmente, são “commodities” e não mais diferenciais. “Se me perguntarem qual é o diferencial para que uma marca seja desejada a resposta seria informação”, apontou ela, destacando que a força apaixonada é o que movimenta o setor.

Palavras contundentes como amor, paixão e emoção permearam todo o Seminário. O diretor de marketing e responsável pelo reposicionamento de mercado da marca Carmim, atualmente uma referência em jeans, Reynaldo Pasqua, explanou com segurança as estratégias de distribuição e marketing que resultaram em sucesso para a marca que buscou ficar no espaço entre as marcas nacionais e as importadas.

“A gente não vende tecidos e sim paixão. A imagem necessita transmitir uma mensagem clara sobre a marca, desde o primeiro momento causar impacto”, frisou Pasqua para uma platéia formada por 450 pessoas. O “pai” da nova Carmim, que começou a reestruturação em 2004, compartilha da mesma opinião de Márcia e defende que inovar é uma obrigação. “Inovar, criar, encantar o consumidor de uma maneira inesperada é fundamental para sustentar qualquer marca”, refletiu. E completou: “O lógico é previsível, o segredo é arriscar no diferente. A criatividade é infinita é preciso apenas exercitá-la”.

O palestrante mostrou todas as etapas que o levaram a construir o novo conceito da marca. Dentro deste universo, os presentes puderam assimilar as minúcias de um elaborado e estratégico plano de marketing. Pasqua desenvolveu um plano de marketing integrado que conecta toda a comunicação da Carmim. Outro passo importante para o reposicionamento da grife foi a adoção do “lifestyle brand”. “A característica da Carmim é focar no estilo de vida e não na questão de idade. Nosso público é composto de pessoas entre 14 a 60 anos, o que dita é o estilo delas”, admitiu.

Para comprovar como cada passo em marketing é bem administrado, Pasqua informou que além de conhecer bem o consumidor da marca é essencial saber qual é o público de cada mídia para pensar nas propostas que serão veiculadas. “Nas revistas de moda, por exemplo, temos um público específico que entende a linguagem, então podemos colocar peças mais ousadas e de tendência mesmo, porém, a tiragem desse tipo de publicação é pequena. Em outras vertentes temos as revistas de comportamento, glamour e as de celebridades. Essas últimas são fundamentais, porque além de ter uma tiragem bem superior atinge todos os públicos que gostam de saber o que as celebridades estão usando”.

Finalizando sua participação o criativo diretor destacou os processos de produção e as pesquisas de tendências da Carmim. A pesquisa, informou Pasqua, é um dos diferenciais, porque a equipe de estilistas consegue trabalhar de forma coesa e surpreender com a antecipação de tendências. A marca que agora aposta na força dos acessórios, conseguiu desde 2004 registrar um aumento entre 12% a 18% e construir uma identidade forte, pautada em visão, liderança e sintonia com os negócios. “O desafio, volto a dizer, é despertar a paixão e para isso tem que trabalhar com amor”, destacou Pasqua.

Para atingir um resultado positivo, Raynaldo Pasqua passou a dica: “Mesmo o atacante para bater uma falta tem que dá dois passos para trás. Então, paciência, planejamento e trabalho com foco é o caminho”.

Indústria criativa

A jornalista Eloysa Simões impressiona pela segurança e conhecimento que transmite ao falar. A responsável por colocar o Rio de Janeiro no mapa da moda nacional ao idealizar o Fashion Rio encantou o público presente com sua objetividade e visão apurada sobre o panorama da indústria da moda. Sem palavras rebuscadas ou discurso subliminar, a palestrante falou sem pudores que chegava ao fim a era dos estilistas boêmios, aqueles que se preocupam apenas com as criações sem atentar para a gestão empresarial. Para Eloysa é bastante possível e pragmática a união entre o glamour do segmento com o imperativo chamado dos negócios.

“Durante anos os chamados estilistas virtuais corriam atrás de mídia e desfiles e depois não encontrávamos suas criações em lugar nenhum. O mercado é uma indústria e tem que pensar também como um empresário. Isso é um grande desafio, quando a gente falar em criatividade não vamos desprezar a gestão empresarial”, advertiu Eloysa, completando que o empresário tem que pensar no bem de muitas pessoas e na continuidade do trabalho delas.

A profissional aproveitou o momento para chamar atenção para uma indústria que promete grande desenvolvimento no futuro: a indústria criativa. De acordo com a jornalista essa indústria promove desenvolvimento sustentável e humano e não apenas o crescimento econômico. “Os países desenvolvidos já perceberam o enorme potencial deste setor e muitos fizeram da economia criativa uma questão de Estado”, afirmou.

A indústria criativa, informou Eloysa, é estratégica para todos os negócios que ganham competitividade através da “culturalização de negócios” que é um valor agregado a partir de elementos intangíveis e culturais. “Essa indústria traz para a gente a economia de experiência, pois ou vamos buscar um diferenciado agregado ou não iremos sobreviver aos gigantes do consumo como C&A e Renner”, alertou.

A vantagem da indústria criativa conforme explicou a jornalista está no seu caminhar focado e ágil, elementos que os gigantes do luxo não têm. “Tem que ter coragem de se linkar com sua cultura, se conectar com a história da comunidade, aí entra a economia da experiência. É imperativo fazer esse laboratório da experiência, pois cada marca tem que buscar seu diferencial”, esclareceu Eloysa.

Sobre o cenário da moda brasileira a jornalista foi incisiva ao apontar que o país ainda não conseguiu estabelecer um conceito de moda e também não tem nenhum estilista que tenha mudado o olhar sobre a moda como o americano Marc Jacobs ou os renomados Chanel e Dior, ambos ícones da moda. “Nos gabamos de ser globalizados, mas ainda não somos conhecidos. Ainda não existe o conceito da moda brasileira porque nos perdemos nos conceitos regionais. O Brasil está crescendo e precisa se conectar”, analisou Eloysa, pontuando que a moda praia é o único campo em que o Brasil produz estilo.

Entre algumas previsões a jornalista destacou a volta do futurismo combinado com elementos do passado e presente numa linha só. “A tendência vai ser aquela que conseguir linkar todas essas influências numa única peça”, apostou Eloysa, frisando que o mercado também promete ser dominado por um novo perfil de consumo formado pelo o que ela batizou de “novos velhos”. “As mulheres de 50, 60 e 70 anos estão se reinventando. Elas têm segurança financeira, criou os filhos e agora o seu olhar volta para si mesma. Elas serão as maiores consumidoras da indústria criativa”.

Marisol e Madonna

A segunda parte do Maximoda trouxe o diretor executivo do grupo Marisol, Marcos Zick e o publicitário, proprietário da agência GB65, em New York Gioavanni Bianco, a mente criativa que trabalha com Madonna e é responsável pelas campanhas da Arezzo.

O grupo Marisol é líder no segmento de confecção infantil e franquia monomarcas, também é gestora de marcas como TigorT.Tiger, Lilica Ripilica, Rosa Chá, Stereo, Pakalolo e Marisol. “Temos 13 consultores, cada consultor cuida de 12 lojas, eles fazem um programa de viagem, onde passam uma semana em cada loja, olhando o desempenho e cumprimento das metas, além de ajudar no processo de seleção. Esse é um diferencial que a gente cria. Todo trabalho de divulgação da rede é feito pela Marisol, desde o suporte financeiro a gestão da loja. Temos uma estrutura em Santa Catarina que dá suporte a isso, suportes arquitetônicos, merchandising, enfim várias coisas para dá suporte ao franqueado”, informou Zick, relatando também o desafio em administrar segmentos distintos e posicionamento de marca, onde a estratégia de cada uma delas tem que ser pontual. “Por isso criamos as unidades de negócios, justamente porque a gente tentava fazer uma gestão macro e entendemos que temos que ter uma especificidade”, revelou.

Uma das palestras mais aguardadas da 2ª edição do Maximoda, Giovanni Bianco brindou o público com uma explanação concisa e bem humorada. O publicitário contou sobre o início da carreira e que o convite de casamento de Claudia Raia e Alexandre Frota foi o seu primeiro trabalho na área. Sobre os trabalhos com a Madonna, Bianco disse: “É meu karma. Isso porque considero ter feitos tão bons trabalhos, mas meu maior reconhecimento veio da Madonna. Sempre fui um fã. Nem acreditei na primeira vez que fui convidado para trabalhar com ela, mas agradeço a Deus por essa oportunidade única. Ela é muito profissional, adora controle e sabe muito bem ser marketeira dela mesma”, entregou Bianco.


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